Neste dia 8 de março, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, cabe uma reflexão a respeito dos desafios enfrentados pelas mulheres em diferentes esferas de suas vidas. É inegável que muitas foram as conquistas nos últimos anos, mas precisamos ficar atentos às questões que impactam negativamente a saúde e o bem-estar feminino – uma delas é o consumo nocivo de álcool e outras drogas.
Muitos fatores contribuem para que uma mulher consuma bebida alcoólica de forma abusiva ou drogas: a pressão social por padrões de beleza inatingíveis; demandas crescentes nas esferas profissional e doméstica; a histórica desigualdade de gênero no ambiente de trabalho, com salários reduzidos, e desafios impostos pela maternidade – são diversas as causas que geram estresse e levam algumas mulheres a buscar o álcool como alívio ou fuga.
Segundo o Ministério da Saúde, em 2023 ocorreu um aumento no consumo de álcool entre a população feminina: de 12,7% para 15,2% em relação aos anos anteriores. Durante muito tempo, as pesquisas clínicas sobre o álcool foram feitas apenas com homens, porque o alcoolismo era considerado um problema masculino. Por isso, só a partir da década de 1990, quando um decreto do National Institute of Health, dos Estados Unidos, determinou que as mulheres também fossem estudadas, é que foi possível descobrir mais a respeito dos efeitos do álcool no corpo delas – e há muitas especificidades devido à presença de hormônios, composição de água no organismo, ciclo menstrual e metabolismo, por exemplo.
As empresas desempenham um papel significativo na promoção do bem-estar das funcionárias e na criação de ambientes de trabalho saudáveis – afinal, é no ambiente corporativo que as mulheres passam grande parte dos seus dias. Para ajudá-las a evitar o consumo nocivo de álcool e outras drogas, é possível implementar diversas ações e políticas. Aqui estão algumas sugestões:
· Programas de Educação e Conscientização: promover palestras, workshops e materiais informativos sobre os riscos associados ao consumo de álcool e outras drogas, destacando questões específicas que afetam as mulheres.
· Acolhimento e Escuta Sensível: implementar políticas que promovam a saúde mental no ambiente de trabalho, incluindo acesso a programas de aconselhamento e apoio psicológico; criar espaços seguros para que mulheres possam compartilhar suas experiências e desafios sem julgamento.
· Flexibilidade no Trabalho: oferecer opções de trabalho flexíveis, como horários alternativos, trabalho remoto e licenças flexíveis, para ajudar as mulheres a conciliarem responsabilidades pessoais e profissionais.
· Benefícios de Saúde Abrangentes: garantir que os benefícios de saúde mental sejam tão acessíveis quanto os benefícios físicos. Oferecer planos de saúde que incluam cobertura para tratamento de dependência química.
· Prevenção de Assédio e Discriminação: estabelecer canais eficazes para denúncias e investigações, garantindo que as mulheres sejam apoiadas e acolhidas.
· Ambientes Livres de Álcool e Drogas: promover eventos e atividades sociais que não envolvam bebida alcoólica, proporcionando alternativas saudáveis; criar uma cultura que desencoraje o consumo de álcool no local de trabalho.
· Treinamento de Gestores: oferecer treinamento para gestores para que sejam capazes de reconhecer sinais de estresse, ansiedade e uso nocivo de álcool e outras substâncias, capacitando-os a dar o suporte adequado.
A prevenção eficaz deve ser holística e adaptada às necessidades específicas das mulheres em diferentes realidades. Assim, é possível criar ambientes mais saudáveis e solidários, o que diminui os fatores que podem levar as mulheres ao consumo nocivo de álcool e outras drogas.
A Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) – que visam abordar desafios globais e promover um desenvolvimento mais sustentável até o ano 2030 –, embora não trate explicitamente do consumo de drogas ou questões de gênero, tem diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que estão interligados e têm implicação direta com a situação das mulheres em relação ao consumo de drogas. Veja as mais relevantes:
ODS 3 - Saúde e Bem-Estar: visa assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos. Isso inclui o combate ao abuso de substâncias, que tem impactos significativos na saúde mental e física das mulheres.
ODS 5 - Igualdade de Gênero: busca alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. A relação entre mulheres e o consumo de drogas muitas vezes está ligada a desigualdades sociais e econômicas, destacando a importância de abordar questões de gênero para prevenir o uso nocivo de substâncias.
ODS 8 - Trabalho Decente e Crescimento Econômico: a igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, como proposto pelo ODS 8, pode influenciar diretamente a situação das mulheres, reduzindo fatores estressantes que podem levar ao consumo de drogas como forma de enfrentamento.
ODS 10 - Redução das Desigualdades: o combate ao consumo nocivo de drogas entre as mulheres está ligado à promoção de sociedades mais justas e à redução das desigualdades sociais e econômicas, conforme proposto pelo ODS 10.
Ao adotar medidas que sigam nessas direções, as empresas podem desempenhar um papel proativo na promoção da saúde mental e do bem-estar das mulheres, contribuindo para a prevenção do consumo nocivo de álcool e drogas. Essas ações não apenas beneficiam os indivíduos, mas também promovem um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo.
"Empoderamento feminino não é sobre superioridade, é sobre igualdade e respeito!”
Rio de Janeiro, 08 de Março de 2024.
Selene Franco Barreto – Psicóloga Clínica e Consultora de Empresa.
Andreia Amaral – Assessora de Projetos Educativos da Evolução Clínica e Consultoria
Referências:
ALCOOLISMO entre as mulheres. CISA [Online]. 20 jan. 2023. Disponível em: https://www.cisa.org.br/sua-saude/informativos/artigo/item/400-alcoolismo-entre-as-mulheres. Acesso em: 7 mar. 2024.
NOVOS dados do Ministério da Saúde mostram consumo abusivo e beber e dirigir no Brasil em 2023. CISA [Online]. 18. out. 2023. Disponível em: https://cisa.org.br/pesquisa/artigos-cientificos/artigo/item/442-novos-dados-do-ministerio-da-saude-mostram-consumo-abusivo-e-beber-e-dirigir-no-brasil-em-2023#:~:text=Este%20aumento%20foi%20de%209,ao%20longo%20da%20%C3%BAltima%20d%C3%A9cada. Acesso em: 7 mar. 2024.
TAYLOR, M. Por que o abuso de álcool impacta mais as mulheres do que os homens. BBC News [Online]. 26 ago. 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-45088434#:~:text=Mulheres%20t%C3%AAm%20uma%20maior%20vulnerabilidade%20fisiol%C3%B3gica%20ao%20%C3%A1lcool&text=Al%C3%A9m%20disso%2C%20a%20gordura%20ret%C3%A9m,ainda%20mais%20complicada%20ao%20%C3%A1lcool. Acesso em: 7 mar. 2024.
TRANSFORMANDO nosso mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Centro de Informações das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio). 11 fev. 2016. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/Brasil_Amigo_Pesso_Idosa/Agenda2030.pdf. Acesso em: 7 mar. 2024.
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